Artigo
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo Diocesano de Guarabira-PB
A estiagem começa a ocasionar uma rigorosa seca em parte do Nordeste brasileiro. Isso é novidade? O problema é velho e ocorre com frequência. E pode ser previsto com umacerta antecedência, mesmo sabendo que a seca se manifesta com intensidades diferentes, dependendodo índice de precipitações pluviométricas. A seca resulta de vários fatores e provoca um sério problema social. São muitas as causas apontadas que ocasionam a seca, entre as quais, o processo de circulação dos ventos, que impede a formação de chuvas, a vegetação pouco robusta, a topografia, o desflorestamento, temperatura da região, o fenômeno “El Niño” (aumento da temperatura das águas do Oceano Pacífico) e destruição da vegetação natural por meio de queimadas, sem falar nos produtos químicos colocados nas plantações que contaminam as poucas quantidades de águas armazenadas. É um fenômeno ecológico, que provoca uma crise social e se transforma em problema político. Além da miséria é visível a migração ocasionada pela seca. Há umcomprometimento dos valores éticos, permitindo o uso da situação de extrema vulnerabilidade das pessoas para fins eleitoreiros, limitando o livre exercício da cidadania. A situação econômica vai se agravando e relegando muitas famílias à extrema pobreza. Há falhas no processo de ocupação e de utilização dos solos, ou seja, a não adaptação às condições climáticas existentes e técnicas de utilização dos solos não compatíveis com as condições ecológicas da região e da manutenção de uma estrutura social concentradora e injusta. Isso provoca a destruição da natureza, a poluição dos rios e a exploração dos recursos destinados às ações de melhorias de vida das pessoas atingidas pela seca. Sabe-se que a questão da seca, consequentemente a miséria, não se resume à falta de água. Faltam soluções para se conviver com a seca. Esta não é um elemento desestabilizador de economia e de vida social nem fonte de elevadas despesas para a União. Crises climáticas periódicas, como enchentes, geadas e secas acontecem em qualquer parte do mundo, prejudicando a agricultura. Em muitos casos se tornam calamidades sociais. Muitos são fortalecidos, enquanto é protelada a busca de soluções para os problemas sociais e de oferta de trabalho às populações pobres. Ações emergenciais têm apelado para a distribuição de cestas básicas, construções de cisternas, bolsas, poços, açudes e barragens. O problema da seca somente será superado através de transformações socioeconômicas. As secas vão continuar existindo. Mas é possível conviver com a seca. Seus maiores problemas são provenientes mais da ação ou omissão do homem. Soluções implicam a adoção de uma política de convivência com a seca em vista da superação da pobreza e da miséria do povo. Medidas estruturadoras e concretas são necessárias para resolver os efeitos da seca. Garantir água de qualidade para o consumo humano, água para os animais, alimentação adequada para as famílias, geração de trabalho e renda com a implantação de novas tecnologias à realidade climática da região e uma educação contextualizada, viabilizando as potencialidades naturais e culturais da região. A seca atual tem um complicador, por se tratar de ano de eleições. Dado a fragilidade humana e a falta de sensibilidade no atendimento aos problemas sociais, o sofrimento é vítima. É preciso soluções duradoras e conviver com as estiagens. O modo como é vista a seca no século 21 é uma vergonha. “Eu vi o teu clamor, a tua dor e desci para caminhar com vocês” (Êxodo 3,7ss). Minha bênção!
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena
Bispo de Guarabira (PB)
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