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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Devolvemos o Dízimo Por Gratidão a Deus

Por Padre Demétrio Pereira de Morais[1]

A segunda grande motivação para devolução do Dízimo é a gratidão a Deus. Cremos que tudo quanto existe é fruto do amor e onipotência de Deus; das coisas pequenas: ervas e insetos, às grandes: o sol, a lua, os sistemas planetários, os mares, os animais e as plantas, enfim, todas as coisas visíveis e invisíveis, são dons de Deus (Gn 1,1-2,1-4ª; 2,4b-25; Sl 8,4-7; Sl 9,2-3; Sl 95,6; Sl 104; Is 42,5; Sl 24/23). Somos imensamente gratos pelo Seu gesto doador de vida. Ele nos fez à sua imagem e semelhança, a ele pertencemos (Sl 100,3; Sl 24,1); deu-nos uma família, nos potencializou de talentos e habilidades e continua cuidando e governado a criação com suas leis que estão impressas na natureza: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28-30), sem que isto signifique uma privação da liberdade, que também é um dom inestimável confiado a cada ser humano.
Não obstante as dificuldades e problemas que enfrentamos todos os dias, o apóstolo Paulo nos exorta: Sede eucarísticos [agradecidos]!” (Cl 3,15); e também: “Por tudo daí graças, pois esta é vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus” (1Ts 5,18), isto é, vivei em constante ação de graças. Para a Sagrada Escritura, a gratidão não deve ser somente um gesto isolado e superficial, mas um modo de ser e viver que brota, sobretudo, do amor infinito de Deus por nós, manifestado na total doação de Jesus à humanidade, que veio para nos trazer o dom da fé (Jo 12, 46), e vida em plenitude: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
A importância de desenvolvermos a capacidade de agradecer fica ainda mais evidente, no episódio dos dez leprosos curados por Jesus (cf. Lc 17,11-19), somente o que retornou para agradecer ouviu de Jesus a seguinte afirmação: “a tua fé te salvou” (Lc 17,19). Sendo assim, compreendemos bem o que nos sugere esta passagem bíblica: só quem sabe agradecer pode experimentar e acolher a salvação em sua vida. Portanto, nós que somos dizimistas, também queremos voltar para agradecer, e o fazemos porque a exemplo do povo de Israel temos memória, somos capazes de olhar para o passado e nele enxergar as inúmeras maravilhas realizadas por Deus em nosso favor. Somente quem tem memória sabe agradecer. O samaritano purificado voltou para agradecer porque sabia que sua cura foi fruto da intervenção de Jesus, não esqueceu o benefício recebido, tinha memória e soube reconhecer. Os outros nove prosseguiram suas vidas como se nada lhes tivesse acontecido de extraordinário, isto porque, eram pessoas sem memória, bastaram poucos minutos para que esquecessem o benefício (milagre-purificação) e o benfeitor (Jesus), que lhes havia devolvido a dignidade e o convívio social.
A gratidão pressupõe a relação-comunhão pessoal com Deus e o próximo. É uma atitude que brota da consciência de saber-se amparado e protegido por Deus e auxiliado por nossos semelhantes. Quando vencemos a arrogância e a auto-suficiência nos tornamos capazes de reconhecer a Deus, como o Senhor de nossas vidas, bem como, a importância e as necessidades daqueles que conosco são co-criaturas[2].
Somos gratos a Deus também pela Igreja, que nos transmitiu a fé em Jesus Cristo, e que é um sinal visível de seu Reino no mundo. O batismo que um dia recebemos nos configurou ao corpo místico de Cristo e nos fez seus discípulos e missionários, somos membros dessa comunidade de fé, e por isso, nos sentimos responsáveis pela evangelização e queremos favorecê-la com recursos humanos e materiais.
O dízimo, quando bem vivenciado pode se tornar em uma belíssima oração de louvor e gratidão a Deus por tudo o que Dele recebemos; um sinal visível de nossa participação e corresponsabilidade na comunidade eclesial, que nos ajuda a desenvolver a consciência de pertença à Igreja; um gesto concreto de nosso amor e fidelidade incondicional a Deus, e a sua Igreja, que nos possibilita vencer a cultura consumista e materialista, que impera sobre nós, e sufoca-nos pela ganância e a busca desenfreada por dinheiro. No entanto, a prática dízimo desvirtua-se quando é transformada em meio para se obter benefícios e vantagens de Deus ou da Igreja, tornando-se uma relação de troca (um “toma lá - dá cá”), ao invés de amor e gratidão a Deus.



[1]Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição-Sertãozinho/PB, e Coordenador da Pastoral do Dízimo da Diocese de Guarabira.
[2]Cf.BIANCHI, Enzo: Porque rezar, como rezar, pp. 75-76.

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