As leituras bíblicas mostram que o profeta é
chamado a anunciar a boa nova da salvação e denunciar as injustiças que são
cometidas. Levantar-se e ir dizer pela Palavra e pela vida tudo o que o Senhor
ordenou dizer. Somos chamados a acolher a salvação, como dom de Deus aberto a
todos. Para acolher os profetas, todos precisam esvaziar-se, acreditar que eles
têm algo a mais para oferecer.
Jeremias narra seu
chamado profético (Jr 1,4-5.17-19) num diálogo cheio de ternura e sinceridade,
do qual se destacam duas verdades: a fragilidade do homem e a força criadora de
Deus. Jeremias é alguém que “não sabe falar” e é “jovem”; mas Deus, que o
escolheu desde o ventre materno, transmite-lhe sua Palavra e com ela seu
Espírito. Ele se torna como um muro, capaz de ficar, em nome de Deus, diante
dos poderosos e do povo sem temer e sem calar. Este é o profeta: alguém que
“permanece em nome de Deus” diante do mundo para transmitir-lhe a Palavra, para
ser um leitor da história, um sinal para o povo, alguém que arranca e destrói,
mas só para “edificar e plantar”.
Jesus
vem como profeta em sua pátria (cf. Lc 4,21-30), no meio do seu povo, mas eles
o rejeitam. Porque “nenhum profeta é aceito em sua pátria”? Porque o bem que o
profeta quer ao seu povo é como o bem de Deus: não lisonjeia, não deixa dormir
com falsas seguranças ou com milagres, mas é exigente, provoca decisões e
conversão; é um querer bem de pai, e o pai quer fazer crescer sua criatura.
Jesus é o cumprimento da profecia, porque sobre Ele “repousou o Espírito do
Senhor; Ele não é o comunicador da Palavra de Deus; é a Palavra de Deus. Uma
Palavra que conserva toda a força e as características daquela dos profetas;
ela abate a mentira para edificar o Reino de Deus que é Reino de verdade.
No
tempo da Igreja à qual se refere o Apóstolo Paulo (cf. 1Cor 12,31-13,13), a
profecia parece passar a segundo plano, em face de um carisma maior e mais
perfeito: a caridade – “Se eu tivesse o dom da profecia (...) se não tivesse a
caridade, isso de nada me serviria (...) A caridade não acabará nunca. As
profecias desaparecerão”.
É
verdade, sim, a caridade é maior do que a profecia; amar é mais útil do que
contestar. Mas quem disse isto primeiro não foi Paulo, foi Jesus Cristo. A
profecia levou Jesus à morte, mas a grandeza desta morte não está tanto no fato
de que é uma morte profética quanto no fato de que é uma morte de amor. A
profecia agora já está subordinada à caridade. Isso não quer dizer que o
profeta cristão deverá calar. Paulo se proclamou ele mesmo profeta e disse que
a profecia é “necessária para os fiéis” (cf. 1Cor 14,22). Ele não calou também
quando suas palavras criavam dissidências e soavam revolucionárias. A profecia
cessará somente quando também este mundo tiver cessado. O cristão não é profeta
pelo simples fato de que contesta o mal que há no mundo, mas somente se o faz
por amor. O profeta incomoda porque exige mudança de atitude, exige conversão.
Profetas
na caridade, mas também profetas da caridade. Fazer saber a todos, sobretudo
aos pecadores, que Deus os ama, esta é a mais alta missão do profeta cristão.
Jesus mesmo foi expulso e ameaçado de morte. O verdadeiro profeta deve contar
com a rejeição e a perseguição.
A
missão do profeta e da profetisa é passar, é testemunhar, seja qual for o
resultado. Seu segurança é Deus (cf. Sl 70).
Neste
Ano Santo da Misericórdia, nesta festa de Nossa Senhora da Luz e na alegria da
ordenação sacerdotal de três Diáconos para a Igreja, o Senhor nos conceda a
graça de profetizar e estar atentos à missão dos profetas misericordiosos em
nosso caminho.
Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena – Bispo de
Guarabira(PB)
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