Por ocasião do mês missionário, da
visita da Mãe Aparecida à nossa Diocese e ao presídio
central de Guarabira, mas, sobretudo com a proximidade do ano da misericórdia,
sinto-me na responsabilidade de escrever um pequeno artigo sobre nosso
compromisso como cristãos, perceber a presença do Cristo preso nas pessoas
daqueles que estão privados da sua liberdade e, de tantos outros direitos
fundamentais assegurados pela Bíblia – Palavra de Deus - que é a nossa constituição
por excelência. E pela constituição brasileira, no entanto, negados pela
sociedade dos homens do poder.
Que interpretação poderíamos fazer do
texto de (Is 42, 6-7)? Onde o Senhor chama nossa atenção para o compromisso, de
que uma vez tomados pela mão, e encarregados da aliança das nações, abrir os
olhas dos cegos, libertar os encarcerados e tirar da escuridão os que estão nas
trevas das prisões? Como escolhidos de Deus, como nos sentíamos diante de tais
interpelações? Esses irmãos trazem consigo uma dupla preferência de Deus, 1)
por serem feitos marginais, 2) por representarem o próprio Filho de Deus (Jesus)
encarcerado por nossas culpas...
Quando lemos e rezamos (Is 61,
1-2). A que compromissos nos sentimos chamados? O que representa para nós a
proclamação do ano da graça do Senhor? Somos batizados, ungidos com o mesmo Espírito
de Cristo. Estamos vivendo o ano da graça do Senhor, é necessário tomar para
nós cristãos, as palavras do Profeta – Sarar os Corações aflitos, anunciar aos
cativos a libertação, aos prisioneiros conceder o alvará de soltura – assim
podemos anunciar o dia de nosso Deus, fazer justiça, para consolar os que estão
tristes. Outra palavra que nos chama a atenção, como humanos e cristãos ungidos,
está em (Is. 58,6-7) quebrar as correntes da injustiça, acabar com a opressão,
deixar de lado toda espécie de imposição, e tudo isto a partir de atitudes
pessoais, bem como o acolher, o vestir, o alimentar, o visitar e jamais se
esconder do pobre nosso irmão, eis o jejum, a penitência agradável a Deus.
Diante da onda de violência, dos males
que assolam a todos nós, mas, sobretudo, dentro do sistema prisional, com
aqueles que já perderam a sua liberdade. À luz do (SL 142,5-8), não podemos
perder o nosso senso cristão, acompanhado de uma indignação ética. É verdade
que a violência acontece em duplo sentido; Não podemos esquecer que todos
nascemos com a mesma dignidade que o criador nos concedeu, mas o mundo transformou alguns em doutores e muitos em marginais,
acredito que nós, cristãos, podemos, no mínimo, ser um apoio, um sinal de
esperança para aqueles que nascem iguais a nós, sem dentes e sem unhas, para
não corrermos o risco de ferir os outros, e agora estão trancafiados como
leões. Alguém precisa também olhar para eles!
Para a nossa melhor compreensão da situação
e maior solidariedade com essa parcela da humanidade, quase que banida do nosso
convívio, recorramos ao nosso texto magno do Evangelho (Mt. 25,34-39), o qual
nos mostra a condição fundamental para a concretização da nossa fé em Cristo
aqui na terra, e elemento central do nosso julgamento no dia do nosso encontro definitivo
com Ele. O serviço ao outro e, ao outro rejeitado, fora do convívio social, deve
ser de fundamental importância para nossa vida de discípulo missionário do
Senhor. Como podemos entender que alguém que por seu sofrimento, é deserdado da
sociedade e é, ao mesmo tempo, preferido de Deus? Voltemos a nossa reflexão para
a alegoria do corpo místico. Que lugar ocupam os presos no corpo místico de
Cristo? Será que não são os membros mais frágeis, menos dignos, menos nobres?E
se assim for, o que nos impede de assumir um compromisso também com a causa
deles?
Se é verdade que os membros precisam
uns dos outros - e é verdade - do que necessitam os membros encarcerados dos
membros em liberdade? E de que precisam os membros em liberdade, dos membros
encarcerados? Até onde deve chegar a nossa solidariedade?
O que não diriam os repórteres
policiais e outros sobre este artigo? Mas eles ganham para defenderem uma
“pureza angelical” do Estado e dos “homens de bem!” é um direito que eles têm.
Certamente, já se pode prever o que dirão alguns “cristãos”, que se emocionam
diante das sagradas espécies Eucarísticas, que choram e até entram em transe?
No mínimo dirão que este é um artigo Herético, contrário às suas conveniências
religiosas! Sendo assim, a Bíblia está repleta de heresias, que, por sinal, são
por vezes sofridas, porém, belas e cheias de sentido.
Pe.
Romildo José Santos de Sousa (Membro da Pastoral Carcerária)
Nenhum comentário:
Postar um comentário