O Papa convida a "recuperar o principio
original do Evangelho”, encontrando "novas formas" e "métodos
criativos", sem deixarmos enredar Jesus nos nossos "esquemas
monótonos" (11). Precisamos de "uma conversão pastoral e missionária,
que não pode deixar as coisas como estão" (25). Requer-se uma
"reforma das estruturas" eclesiais para que "todas se tornem
mais missionárias" (27). O Pontífice pensa também numa "conversão do
papado", para que seja "mais fiel ao significado que Jesus Cristo lhe
quis dar e às necessidades atuais da evangelização". A esperança de que as
Conferências Episcopais pudessem dar um contributo para que "o sentido de
colegialidade" se realizasse “concretamente” – afirma o Papa - "não
se realizou plenamente" (32). E’ necessária uma “saudável
descentralização" (16). Nesta renovação não se deve ter medo de rever
costumes da Igreja "não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns
dos quais profundamente enraizados ao longo da história" (43).
O Papa aponta as "tentações dos agentes da
pastoral": o individualismo, a crise de identidade, o declínio no fervor
(78). "A maior ameaça" é "o pragmatismo incolor da vida
quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede na faixa normal,
quando na realidade a fé se vai desgastando" (83). Exorta a não se deixar
levar por um "pessimismo estéril” (84) e a sermos sinais de esperança (86)
aplicando a "revolução da ternura" (88).
Abordando o tema da inculturação, o Papa lembra que
"o cristianismo não dispõe de um único modelo cultural" e que o rosto
da Igreja é "multiforme" (116). "Não podemos esperar que todos
os povos... para expressar a fé cristã, tenham de imitar as modalidades adaptadas
pelos povos europeus num determinado momento da história" (118). O Papa
reitera "a força evangelizadora da piedade popular" (122) e incentiva
a pesquisa dos teólogos.
O Papa convida a cuidar dos mais fracos: "os sem
teto, os dependentes de drogas, os refugiados, os povos indígenas, os idosos
cada vez mais sós e abandonados" e os migrantes, em relação aos quais o
Papa exorta os Países "a uma abertura generosa" (210). "Entre
estes fracos que a Igreja quer cuidar" estão "as crianças em
gestação, que são as mais indefesas e inocentes de todos, às quais hoje se quer
negar a dignidade humana" (213). "Não se deve esperar que a Igreja
mude a sua posição sobre esta questão... Não é progressista fingir resolver os
problemas eliminando uma vida humana" (214). Neste contexto, um apelo ao
respeito de toda a criação: "somos chamados a cuidar da fragilidade das
pessoas e do mundo em que vivemos" (216).
Quanto ao tema da paz, o Papa afirma que é "necessária uma voz
profética" quando se quer implementar uma falsa reconciliação "que
mantém calados" os pobres, enquanto alguns "não querem renunciar aos
seus privilégios" (218). Para a construção de uma sociedade "em paz,
justiça e fraternidade" indica quatro princípios: "trabalhar a longo
prazo, sem a obsessão dos resultados imediatos"; "operar para que os
opostos atinjam "uma unidade multifacetada que gera nova vida";
"evitar reduzir a política e a fé à retórica; colocar em conjunto
globalização e localização.
O último capítulo é dedicado aos "evangelizadores com o Espírito",
aqueles "que se abrem sem medo à ação do Espírito Santo", que
"infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com ousadia, em voz
alta e em todo o tempo e lugar, mesmo em contracorrente" (259). Trata-se
de "evangelizadores que rezam e trabalham" (262), na certeza de que
"a missão é uma paixão por Jesus, mas, ao mesmo tempo, uma paixão pelo seu
povo" (268): "Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos
a carne sofredora dos outros" (270). "Na nossa relação com o mundo – esclarece
o Papa - somos convidados a dar a razão da nossa esperança, mas não como
inimigos que apontam o dedo e condenam" (271). "Pode ser missionário
- acrescenta ele - apenas quem busca o bem do próximo, quem deseja a felicidade
dos outros" (272): "se eu conseguir ajudar pelo menos uma única
pessoa a viver melhor, isto já é suficiente para justificar o dom da minha
vida" (274).
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