Após visitar o Santuário Nacional de Aparecida, o
Papa Francisco foi de helicóptero até a Base Aérea de São José dos Campos, onde
embarcou num avião até o Aeroporto Santos Dumont. De lá seguiu em carro fechado
– devido à chuva - até o Hospital São Francisco, com a distância de 16 km do
aeroporto, onde chegou às 16h20, sendo calorosamente acolhido pelos presentes,
entre eles o Secretário da Saúde do Rio de Janeiro, Sérgio Luiz Cortês da
Silveira, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, além de
autoridades civis e religiosas.
O Santo Padre iniciou seu discurso saudando as autoridades civis e religiosas presentes, assim como os membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, médicos, enfermeiros, demais profissionais de saúde e os jovens em recuperação. Após, afirmou que “Deus quis que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis”. E acrescentou:
“É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem Francisco
abandona riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos
pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira
riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e
servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto
se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão
sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta enc.
Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a
carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência
química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês - vocês que são a carne de
Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de
vocês e também o meu”.
O Papa destacou em seguida a necessidade que todos
temos de “aprender a abraçar quem passa necessidade”, citando São Francisco. E
observa que no Brasil e no mundo existem tantas situações “que reclamam
atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química”, denunciando
os ‘mercadores da morte’, que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo
custo:
“A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor”.
O Papa observa, porém, que somente abraçar não é suficiente, mas que “é necessário estender a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e que devemos dizer a quem vive nesta situação que é possível sair dela e que a própria pessoa é protagonista deste ato:
“Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível, se você o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para a frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para a frente, existe “um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias”. A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!”.
Em seguida o Santo Padre, retoma a parábola do Bom
Samaritano, a qual foi objeto de sua reflexão no Angelus do domingo, 14 de
julho, que apresenta um homem que foi atacado por assaltantes e deixado quase
morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes
seguem o seu caminho: não é problema delas! Somente um samaritano, um
desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele, e afirma:
“Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades, porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos Jesus”.
Ao concluir, o Papa Francisco recorda a todos os que lutam contra a dependência química e aos familiares, a proximidade da Igreja na sua luta, convidando-os a confiar no amor maternal de Maria:
“a Igreja não está longe dos esforços que vocês fazem, Ela os acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e os conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está Ela, nossa Mãe. Deixo-os em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençoo”.
Por fim, a visita é encerrada com uma oração, onde todos recebem a bênção do Sumo Pontífice, que deixou o local, às 19h40.
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