Os festejos populares são elementos
valiosos na convivência humana. Infelizmente, o Carnaval perdeu muito a
tranqüilidade de uma diversão sadia.
Ao que parece, para muitos, o
carnaval (“carne vale”) se contrapõe à festa do espírito, da pessoa humana. A
liberdade, dom precioso dado ao ser humano pelo seu Criador, não é respeitada,
nem valorizada, mas desvalorizada. É a busca de uma alegria sem Deus que
termina na quarta-feira como verdadeira cinza do tempo que passou.
O
mundo não pode afastar-se de seu Criador. Para aqueles que acreditam em Deus é
preciso seguir fielmente os ensinamentos de seu Filho Jesus, empenhando-se cada
vez mais na luta pela fraternidade.
Diante
dos males do mundo sem Deus, das violências, dos tráficos e da devassidão
nesses dias de folia, os cristãos mais conscientes preferem se retirar do
tumulto e se entregar ao recolhimento e à oração. É o que se chama “retiro ou
encontro de Carnaval”, aconselhável para quem quer se afastar do barulho e se
dedicar um pouco a refletir no único necessário, a salvação eterna. É tempo de
se pensar em Deus, na própria alma, na missão de cada um, na necessidade de
estar bem com Deus e com a própria consciência.
O
Apóstolo São Paulo adverte: “Não vos conformeis com este mundo” (Rm 12,2); “Já
vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se
comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus
deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso, apreciam só as
coisas terrenas” (Fl 3,18-19); “Os que se servem deste mundo, não se detenham
nele, pois a figura deste mundo passa” (cf. 1Cor 7,31).
Iniciemos
a Quaresma - tempo de conversão e de retomada de nossa vida batismal - na
Quarta-feira de Cinzas, participando da Eucaristia e praticando a penitência,
através de jejum e da abstinência (não comer carne).
As
cinzas são um sinal já existente no Antigo Testamento que significa o
arrependimento pelo mal cometido e o desejo de mudança. Elas são feitas pela
queima dos ramos bentos na Semana Santa do ano anterior. Recordam-nos,
portanto, a necessidade de conversão para testemunharmos Jesus Cristo como
Senhor e Salvador de nossa vida.
Neste
tempo de verdadeira conversão: o jejum, a oração e a esmola sejam sinais de uma
mudança interior e não apenas de formalidades a serem cumpridas. É importante
entrar neste tempo de conversão e penitência com o coração livre. “Convertei-vos
e crede no Evangelho”, eis o tempo favorável! Outro sinal importante neste tempo
é a confissão. Além do mais, a Quaresma é acompanhada, no Brasil, pela Campanha
da Fraternidade, anunciando e denunciando que a pessoa humana não é mercadoria.
A
Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma, 40 dias de preparação para a Páscoa, de
penitência e oração mais intensa. Para os antigos judeus sentar-se sobre as
cinzas já significava arrependimento dos pecados e volta para Deus. As Cinzas
bentas e colocadas sobre as nossas cabeças nos fazem lembrar que vamos morrer;
que somos pó e que ao pó da terra voltaremos (cf. Gn 3,19), para que nosso
corpo seja refeito por Deus, de maneira gloriosa, para não mais perecer.
Passemos
este tempo de carnaval na tranquilidade do lar, num lugar calmo ou participando
de algum retiro ou encontro espiritual. Bom descanso e recolhimento para todos!
Na quarta-feira nos encontraremos na Missa e no recebimento das cinzas sobre as
cabeças, em sinal de penitência. Que o Senhor nos ajude a vivermos um carnaval
decente e uma Santa Quaresma!
Dom Francisco
de Assis Dantas de Lucena – Bispo de Guarabira(PB)
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