A arquidiocese de Olinda e Recife (PE) recebeu carta da
Congregação para a Causa dos Santos informando que “aguarda o parecer de
diferentes Dicastérios para se poder proceder ao processo de beatificação” do
Servo de Deus dom Helder Pessoa Câmara.
A carta, assinada pelo prefeito da Congregação,
cardeal Angelo Amato, é uma resposta à solicitação de informações do arcebispo
de Olinda e Recife, dom Antônio Fernando Saburido, sobre o andamento do
processo de beatificação, recebido pela Congregação da Cúria Romana em junho de
2014, com o requerimento deNihil
Obstat (Nada Consta)
para que seja iniciado o processo diocesano de beatificação de um dos
idealizadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Caso o Nada Consta seja emitido pelo
Vaticano, a arquidiocese de Olinda e Recife terá autorização para iniciar o
processo diocesano. Nesta fase, de acordo com a Constituição Apostólica Divinus
Perfectionis Magister, que rege
as normas relativas às Causas dos Santos, haverá a investigação “sobre a vida,
as virtudes, o martírio e a fama de santidade ou de martírio, sobre os
possíveis milagres e, eventualmente, sobre o culto antigo de um servo de Deus,
para o qual se pede a canonização”.
A etapa seguinte consiste em reconhecer suas “virtudes
heroicas”. Para isso, uma comissão jurídica se reunirá para estudar os textos
publicados em vida e analisar os testemunhos de pessoas que conheceram o “Dom
da Paz”, como dom Helder é conhecido.
Em seguida, o relator do processo, nomeado
pela Congregação para a Causa dos Santos, elabora um documento denominado Positio.
Trata-se de um compêndio dos relatos e estudos realizados pela comissão. Assim
que aprovado, o papa concede o título de Venerável Servo do Deus.
O passo seguinte é o da beatificação. Ser beato, ou
bem-aventurado, significa representar um modelo de vida para a comunidade e,
além disso, ter a capacidade de agir como intermediário entre os cristãos e
Deus. Depois disso, ainda é preciso passar por mais uma fase: a canonização.
Para ser proclamado santo é imprescindível a comprovação
de um milagre, que deve ocorrer após sua nomeação como beato.
Dom Helder e a CNBB
As histórias de dom Helder Câmara e da Conferência
confundem-se. Ordenado padre aos 22 anos de idade, Helder Câmara chegou ao Rio
de Janeiro aos 27 anos, em 1936, com a incumbência de instalar o Secretariado
Nacional da Ação Católica Brasileira, sendo a precursora da CNBB.
Em dezembro de 1950, ele apresentou o projeto da CNBB ao
então integrante da secretaria de estado do Vaticano, monsenhor Giovanni
Battista Montini, que seria eleito papa Paulo VI. Em menos de três meses, após
a eleição do pontífice, foi fundada a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil.
Além da criação da CNBB, dom Helder é lembrado por sua
atuação em favor da defesa da liberdade e dos mais necessitados. Durante o
período de ditadura militar no Brasil, após ser empossado como arcebispo de
Recife e Olinda, dom Helder e mais 17 bispos do Nordeste pediram a liberdade
das pessoas e da Igreja. Em 1969, ele criticou a situação de miséria dos
agricultores nordestinos. Na ocasião, foi chamado de demagogo e comunista.
Situações semelhantes o levaram a pronunciar a memorial
frase “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque
eles são pobres, chamam-me de comunista”. Outros fatos remetem às represálias
que sofreu, inclusive com sua casa metralhada, assessores presos e
assassinados.
Em 1970, quando teve o nome lembrado para o Prêmio Nobel
da Paz, o governo brasileiro promoveu uma campanha internacional para derrubar
a indicação, já que ele denunciava a prática de tortura a presos políticos no
Brasil. No mesmo ano, os militares chegaram a proibir a imprensa de mencionar o
nome do arcebispo de Recife e Olinda.
Dom Helder foi condecorado internacionalmente com prêmios
nos Estados Unidos, Martin Luther King (1970) e na Noruega, Prêmio Popular da
Paz (1974), por exemplo. São de sua autoria 22 livros, sendo a maioria ensaios
e reflexões sobre o terceiro mundo e a Igreja.
O prelado esteve à frente da arquidiocese de Olinda e
Recife até o dia 10 de abril de 1985, quando – por atingir a idade limite de 75
anos – foi substituído pelo arcebispo emérito dom José Cardoso Sobrinho.
Helder morreu em sua casa, no Recife, em 27 de agosto de 1999, devido a uma
insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. Seus restos mortais
estão sepultados na Igreja Catedral São Salvador do Mundo, em Olinda (PE).
Com informações da arquidiocese de Olinda e Recife
(PE)
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