Por Padre
Demétrio Pereira de Morais[1]
A segunda grande motivação para devolução do Dízimo é a
gratidão a Deus. Cremos que tudo quanto existe é fruto do amor e onipotência de
Deus; das coisas pequenas: ervas e insetos, às grandes: o sol, a lua, os
sistemas planetários, os mares, os animais e as plantas, enfim, todas as coisas
visíveis e invisíveis, são dons de Deus (Gn 1,1-2,1-4ª; 2,4b-25; Sl 8,4-7; Sl
9,2-3; Sl 95,6; Sl 104; Is 42,5; Sl 24/23). Somos imensamente gratos pelo Seu
gesto doador de vida. Ele nos fez à sua imagem e semelhança, a ele pertencemos
(Sl 100,3; Sl 24,1); deu-nos uma família, nos potencializou de talentos e
habilidades e continua cuidando e governado a criação com suas leis que estão
impressas na natureza: “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (At
17,28-30), sem que isto signifique uma privação da liberdade,
que também é um dom inestimável confiado a cada ser humano.
Não obstante as
dificuldades e problemas que enfrentamos todos os dias, o apóstolo Paulo nos exorta:
“Sede
eucarísticos [agradecidos]!” (Cl 3,15); e também: “Por tudo daí graças, pois esta é
vontade de Deus a vosso respeito, em Cristo Jesus” (1Ts 5,18), isto é,
vivei em constante ação de graças. Para a Sagrada Escritura, a gratidão não
deve ser somente um gesto isolado e superficial, mas um modo de ser e viver que
brota, sobretudo, do amor infinito de Deus por nós, manifestado na total doação
de Jesus à humanidade, que veio para nos trazer o dom da fé (Jo 12, 46), e vida
em plenitude: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo
o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
A importância de
desenvolvermos a capacidade de agradecer fica ainda mais evidente, no episódio
dos dez leprosos curados por Jesus (cf. Lc 17,11-19), somente o que retornou
para agradecer ouviu de Jesus a seguinte afirmação: “a tua fé te salvou” (Lc
17,19). Sendo assim, compreendemos bem o que nos sugere esta passagem bíblica:
só quem sabe agradecer pode experimentar e acolher a salvação em sua vida.
Portanto, nós que somos dizimistas, também queremos voltar para agradecer, e o
fazemos porque a exemplo do povo de Israel temos memória, somos capazes de olhar
para o passado e nele enxergar as inúmeras maravilhas realizadas por Deus em
nosso favor. Somente quem tem memória sabe agradecer. O samaritano purificado voltou
para agradecer porque sabia que sua cura foi fruto da intervenção de Jesus, não
esqueceu o benefício recebido, tinha memória e soube reconhecer.
Os outros nove prosseguiram suas vidas como se nada lhes tivesse acontecido de
extraordinário, isto porque, eram pessoas sem memória, bastaram poucos minutos
para que esquecessem o benefício (milagre-purificação) e o benfeitor (Jesus),
que lhes havia devolvido a dignidade e o convívio social.
A gratidão pressupõe a
relação-comunhão pessoal com Deus e o próximo. É uma atitude que brota da consciência
de saber-se amparado e protegido por Deus e auxiliado por nossos semelhantes. Quando
vencemos a arrogância e a auto-suficiência nos tornamos capazes de reconhecer a
Deus, como o Senhor de nossas vidas, bem como, a importância e as necessidades daqueles
que conosco são co-criaturas[2].
Somos gratos a Deus
também pela Igreja, que nos transmitiu a fé em Jesus Cristo, e que é um sinal
visível de seu Reino no mundo. O batismo que um dia recebemos nos configurou ao
corpo místico de Cristo e nos fez seus discípulos e missionários, somos membros
dessa comunidade de fé, e por isso, nos sentimos responsáveis pela
evangelização e queremos favorecê-la com recursos humanos e materiais.
O dízimo, quando bem
vivenciado pode se tornar em uma belíssima oração de louvor e gratidão a Deus
por tudo o que Dele recebemos; um sinal visível de nossa participação e corresponsabilidade
na comunidade eclesial, que nos ajuda a desenvolver a consciência de pertença à
Igreja; um gesto concreto de nosso amor e fidelidade incondicional a Deus, e a
sua Igreja, que nos possibilita vencer a cultura consumista e materialista, que
impera sobre nós, e sufoca-nos pela ganância e a busca desenfreada por
dinheiro. No entanto, a prática dízimo desvirtua-se quando é transformada em
meio para se obter benefícios e vantagens de Deus ou da Igreja, tornando-se uma
relação de troca (um “toma lá - dá cá”), ao invés de amor e gratidão a Deus.
[1]Pároco da Paróquia de
Nossa Senhora da Conceição-Sertãozinho/PB, e Coordenador da Pastoral do Dízimo
da Diocese de Guarabira.
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